O Brasil está se aproximando da legalização dos jogos e das apostas esportivas. Um passo importante foi dado em dezembro, quando entrou em vigor a Lei 13.756/18 para criar a modalidade de apostas esportivas no país. É um caminho que parece sem volta. Mas ao mesmo tempo em que a liberação das apostas é vista como algo positivo para movimentar a economia, há, por outro lado, o temor de que com a regulamentação a lisura do esporte seja comprometida.
Atualmente, brasileiros utilizam sites de países estrangeiros para apostar. Inclusive há domínios que são registrados em outros lugares para driblar a legislação brasileira, mas operam em português. Sendo assim, uma fortuna em possíveis impostos deixa de ser recolhida. A legalização vai trazer um novo panorama. Estando os sites nacionais dentro da lei, o reflexo vai para a economia do país. E a tendência é o surgimento de novos empregos, novas possibilidades.
O que ocorre na Europa, onde as apostas são permitidas, é o que deve acontecer de forma parecida no Brasil quando a legalização se concretizar. Lá, sites de jogos movimentam cifras enormes e chegam até a patrocinar algumas equipes. Mas nem tudo é positivo dentro desta realidade. As apostas podem acabar desencadeando grandes casos de manipulação de resultados, com possibilidade de envolvimento de atletas, treinadores e dirigentes do esporte.
Em 1982, a revista “Placar” denunciou um esquema que ficou conhecido como “Máfia da Loteria Esportiva.” A reportagem mostrou, na época, que 125 nomes estavam por trás de uma situação que beneficiava apostadores da Loteca. Entre os envolvidos havia árbitros, técnicos e jogadores.
Outro caso emblemático aconteceu em 2005. Um furo da revista “Veja” desmascarou um grande esquema em que trapaças da arbitragem interferiam nos resultados das partidas do Brasileirão para beneficiar apostadores. A “Máfia do Apito”, como ficou conhecida, teve como protagonista o árbitro Edílson Pereira de Carvalho, que acabou banido do esporte.
O receio é que com a legalização das apostas esportivas de uma forma geral, esse tipo de situação seja mais factível. Há casos marcantes de manipulação também na Europa, como o que aconteceu em 2006 e culminou no rebaixamento da Juventus para a segunda divisão do Campeonato Italiano.
As apostas são uma realidade no Brasil e já está provado que não adianta querer combatê-las na base da proibição. A regulamentação se faz necessária. Mas é preciso cuidado para que a moral do esporte se preserve. E que os resultados sejam decididos apenas dentro das quatro linhas.
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